quarta-feira, 9 de maio de 2018

Teoria dos circos

Estou completamente surpreendida pelo tamanho da discussão que vai em Portugal acerca do último artigo de opinião da Fernanda Câncio, mas já percebi o mal de que padeço: é que eu esqueço-me que ela foi a namorada de José Sócrates. Como é que posso ser tão esquecida? É simples: morreu a minha mãe por aquela altura e eu tinha outras coisas em que pensar e a vida sexual do PM português não me parecia pertinente. Ou seja, só há para aí três anos é que soube, mas não fiz grande esforço em dar grande importância a tal facto. Convenhamos que pensar em Sócrates e amor ao mesmo tempo não faz muito sentido porque ele não tem amor a ninguém. A Fernanda foi mais uma das pessoas que ele usou para chegar onde quis, mas isso na minha cabeça até é sinal de respeito por ela porque de todos os jornalistas em Portugal, Sócrates sentiu necessidade de se envolver com Fernanda Câncio. I rest my case...

Outra coisa que não entendo é o atraso de grande parte da população em enfrentar os factos acerca de Sócrates e do partido que permitiu que existisse um Sócrates. O resto do pessoal ele não levou para a cama, logo que desculpa resta? Vejamos o caso de Donald Trump: ainda nem há dois anos que está em funções nos EUA e, para além das manifestações populares, já há vítimas políticas no Partido Republicano. Por exemplo, Paul Ryan, o porta-voz da Câmara de Representantes já anunciou que não iria voltar a candidatar-se. Em Portugal, não sei de ninguém importante que tenha visto a sua carreira política comprometida por causa de José Sócrates, a não ser o próprio e só ao fim deste tempo todo.

Tomemos António Costa, o actual Primeiro Ministro, que ocupou um cargo importante no partido e no Governo durante o tempo de Sócrates. Sofreu alguma coisa por ter havido um Sócrates e ele estar ao lado? O que eu vejo é toda a gente gabar a inteligência política de António Costa apesar de ele também não ter visto nada, nem feito nada, para impedir Sócrates, e note-se que não viu nada numa capacidade profissional, que é muito diferente de não ver nada porque se envolveu amorosamente com a pessoa. Claramente um sinal de inteligência -- olhem, querem saber? O Pedro Passos Coelho é que tinha razão: o melhor é mesmo emigrar porque ser inteligente aí não é propriamente um bom sinal.

Mas este exemplo é muito mais rico do que pensam porque António Costa é meio-irmão de Ricardo Costa, que ocupa um lugar importante na comunicação social portuguesa, ou seja, também ele tem alguém cujo julgamento profissional compete com o papel que ocupa na esfera privada. Será que, daqui a 10 anos, quando o país encontrar algo de errado com a governação de António Costa -- repare-se que haverá algo porque há sempre --, também se irá fazer um circo em redor de Ricardo Costa, como agora se faz em torno de Fernanda Câncio?

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