quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Alternativas

Na Terça-feira, fui ao Tribunal da minha cidade para ser seleccionada para o júri de um julgamento. Não contei o número de pessoas que lá estavam, mas deviam ser mais de 30 porque estava programado haver quatro julgamentos, mas três foram cancelados -- cada julgamento precisa de 6 pessoas no júri, mas temos de ter em atenção que algumas saem porque têm conflitos de interesse, outras são excluídas pela defesa ou pela acusação.

Surpreendeu-me que, no meio de tanta gente, quase todos fossem brancos e predominantemente homens. Uma das formas de sermos desculpados do "dever de ser jurado" (traduzo assim "jury duty") é ter ao nosso cuidado uma criança de 12 anos ou mais nova, logo este critério deve excluir muitas mulheres. Eu devia ser a mulher mais jovem que lá estava e, para minha surpresa, fui a única seleccionada para participar no julgamento.

Como nunca tinha sido chamada para uma coisa destas, para mim foi uma experiência educativa, que ainda estou a processar. Recordei-me de um episódio que me aconteceu há uns anos, em que um colega meu, ao falar da evolução dos preços de uma commodity disse que havia três alternativas: ou o preço subia, ou descia, ou ficava na mesma, logo 33,3% para cada lado. Quando ele disse aquilo, tive uma reacção visceral imediata porque a probabilidade de um preço ficar na mesma de um dia para o outro é quase nula, logo os 100% são quase na totalidade divididos entre ou vai para baixo ou vai para cima. Mas aquele erro é muito comum...

Agora que penso nas escolhas do veredicto, pergunto-me que impacto terá na forma como as pessoas processam as suas alternativas. No caso da multa, os veredictos possíveis eram "guilty" ou "not guilty", mas o "guilty" tinha também a possibilidade de escolha de uma multa que ia de um mínimo de $1 a um máximo de $200. Quando o advogado de defesa instruiu o júri, disse-nos que perante a lei nós tínhamos de presumir inocência, logo qualquer dúvida devia dar um veredicto de "not guilty". Só que não é bem o caso porque o veredicto tinha de ser unânime, logo todos os jurados tinham de reconhecer ter uma dúvida para concluir "not guilty".

O caso era insignificante: uma multa por conduzir a 70 milhas por hora, numa área em que o limite está assinalado como sendo 60. No Texas, não há limite de velocidade máxima, mas temos de conduzir a uma velocidade que não é “unreasonable and imprudent under the circumstance then existing”. Se está assinalado um limite, entra em consideração a questão de limites de velocidade "prima facie", em que velocidades acima desse limite podem não ser prudentes ou razoáveis -- ou seja, é necessário avaliar as condições.

No julgamento, tivemos oportunidade de ver o vídeo da polícia em que a pessoa acusada ultrapassa os 70 mph por uns segundos e é parada pela polícia. Na minha opinião, não achei a velocidade perigosa, aliás estava tudo a conduzir a mais de 60 mph, quase a 70 mph, inclusive um camião, que penso colocar um risco maior, mas a minha dúvida, que era partilhada por outra pessoa, não foi suficiente para absolver porque há quem ache que 70 mph é o limite de perigoso. Dizia eu aos meus colegas que havia um carro à frente que ia mais rápido do que o da pessoa acusada, logo a velocidade da pessoa acusada inseria-se no argumento de "flow of traffic", só que me responderam que esse carro ia muito mais à frente e estava mais longe da polícia e alguém cometer uma violação e safar-se não serve de desculpa para safar quem é apanhado.

Tenho a ligeira sensação de que o meu papel de refilona não serviu a justiça; apenas serviu para minimizar a injustiça. O meu opositor principal disse-me que, se eu aceitasse dar um veredicto de "guilty", ele aceitaria dar uma multa de $1. Pensei nas alternativas: a pessoa ia a tribunal outra vez e corria o risco de ser culpada e ter uma multa maior ou não ia a tribunal e pagava a multa, que é mais de $1. Aceitei mudar o meu veredicto em troca da multa mínima. No final, o homem que me opôs perguntou-me o que eu fazia: sou economista.

Um outro senhor, muito mais discreto do que eu e que também estava disposto a dar o veredicto de "not guilty", veio ter comigo no final e disse que aquilo era o melhor que podíamos ter feito dada a composição do júri e sugeriu que déssemos os $6 que cada um recebeu em troca do nosso serviço à pessoa acusada e que lhe disséssemos "We're sorry, but this is the best that we could do under the circumstances". Assim fizemos e entregámos os $12.

Mas continuo insatisfeita e com vontade de refilar: estou a avaliar as minhas alternativas...

2 comentários:

  1. Eu logo percebi que tu eras uma das duas pessoas que tinha entregue o dinheiro.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu sou muito previsível... Foi um caso que parece insignificante, mas era bastante interessante observar o julgamento e a discussão.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.