quinta-feira, 25 de maio de 2017

Quando se deve errar?

Uma vez, um modelo meu errou duas semanas seguidas. Depois do segundo erro, sugeriram-me se não havia uma variável que eu pudesse usar de forma a diminuir esse erro específico. Não me parecia. O erro anterior tinha sido na direcção oposta, logo o meu modelo não estava a fazer um erro sistemático: uns eram positivos, outros eram negativos, como devia ser e não houve nenhum evento captado por uma variável a que eu tivesse acesso, que pudesse antecipar aquele segundo erro e o anterior. Não fiz nada ao modelo. Na semana seguinte, o modelo acertou exactamente, e a mesma pessoa que me tinha sugerido mudar o modelo, deu-me os parabéns por ter acertado.

Na minha profissão, conto errar perto de 100% do tempo, mas preocupa-me o tamanho dos meu erros e a direcção dos mesmos. Há alturas em que, por haver informação muito mais limitada, os meus erros irão ser grandes e eu espero que sejam; à medida que mais informação fica disponível, os meus erros têm de ser menores; mas não podem ser sistemáticos. Também me interessa a evolução das variáveis, a maneira como interagem umas com as outras -- as coisas passarem o teste de cheiro, como dizia um antigo chefe meu.

Há erros que são desejáveis. Por exemplo, alguém que vai ao médico e o médico diz "Se você não fizer X, Y, e Z, vai provavelmente morrer dentro de dois anos." Qual o objectivo do médico: acertar na projecção a todo o custo ou errar de propósito? Em economia encontramos o mesmo tipo de problema: há previsões que são feitas para não se concretizarem.

Chateia-me um bocado quando as pessoas dizem que sou pessimista. Um bom economista tem de ser pessimista por natureza, pois uma das nossas funções é gerir risco, logo temos de estar sempre à procura de coisas que possam correr mal; ninguém se importa quando as coisas correm bem. Para além disso, muitas vezes, quando as coisas vão para o torto, descobre-se que muita gente comprometeu a sua integridade profissional, ou seja, erraram quando tinham informação suficiente para não o fazer.

Há certos erros que devem ser tolerados; outros não.

1 comentário:

  1. "Chateia-me um bocado quando as pessoas dizem que sou pessimista."

    Essas pessoas de quem se queixa não são das famílias para quem o cenário mais provável é a média dos cenários optimista e pessimista?

    Ou seja, para as quais o cenário a ter em conta é uma ficção?

    Olhe que ainda há por aí muita gente dessa e, um dia, eu tive mesmo de dizer a alguns que o seu problema que têm é mesmo o de não saberem o mínimo.

    [Por acaso fi-lo com cautela - antes de dizê-lo fui perguntar a pessoas que tinham saido da escola há menos de 10 anos e foram taxativas - tem de ser-se directo. Qualquer outra abordagem é inútil]

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