segunda-feira, 22 de maio de 2017

Nós, os criminosos

Na semana passada, o Juiz John G. Roberts, Presidente do Supremo Tribunal dos EUA, confessou que, uma vez, tinha conduzido a 60 milhas por hora, numa zona de 55, e não foi apanhado. Vejam lá o tipo de pessoas que chegam ao Supremo! Em 2010, no Cimarron Turnpike, quase na saída para Stillwater, Oklahoma, fui apanhada a conduzir a 100 milhas por hora, numa zona de 75. Ia sozinha de Fayetteville, AR, para passar a noite em casa dos meus sogros e depois, ao outro dia, ia para Denver, Colorado. (É por causa destas viagens que se inventaram os livros audio.) Lá paguei a multa de quase $300 porque o polícia teve pena de mim e deu-me a mais leve porque era a minha primeira infracção. Serviu-me de lição.

O "aceitável" nos EUA é conduzir-se dentro de 5 mph acima do limite de velocidade; se estivermos muito acima, a probabilidade de sermos parados pela polícia e apanharmos uma multa aumenta bastante. O Juiz Roberts estava dentro da zona cinzenta em que é infracção, mas quase ninguém liga. Ainda por cima, ele é branco; se fosse o Juiz Clarence Thomas, era capaz de ser mais problemático...

Em Portugal 100 mph, ou seja, 161 km/h, é uma infracção quase trivial se observarmos os costumes do povo. Vê-se muita gente na auto-estrada a ir bem mais depressa do que isso, aliás, quando conduzo em Portugal farto-me de ouvir buzinadelas porque acham que sou muito lenta. (Penso o seguinte acerca dos idiotas que me buzinam: quando estou aí, estou de férias, não tenho pressa, e, mesmo assim, quando depende apenas de mim, chego a tempo aos meus compromissos. Ou seja, vão-se lixar os viciados nas buzinas, que só servem para criar poluição sonora e demonstrar que há muita gente mal-educada, que não sabe gerir o seu tempo. Uma buzina serve para alertar; não para reclamar. Adiante...)

A história do excesso de velocidade vem a propósito da definição de "criminoso" que a Administração Trump queria usar para lhe permitir retirar a cidadania ou deportar pessoas indesejáveis. Não me recordo se declarei a minha infracção quando submeti a candidatura para cidadania. Tenho o hábito de dar informação a mais em caso de incerteza, mas também tenho o hábito de ler as instruções e ver que tipo de coisas são passíveis de ser divulgadas. De qualquer das formas, agradeço imenso ao Juiz Roberts a pergunta e o contra-argumento porque, corria seriamente o risco de ser deportada e o Juiz Roberts achou o mesmo acerca de si próprio.

"The administration’s hard line on the standard for criminalization has gone so far as to alarm several members of the Supreme Court, as demonstrated during an argument before the Court last week (Maslenjak v. United States), in which a Justice Department lawyer argued that, as The Times reported, “the government may revoke the citizenship of Americans who made even trivial misstatements in their naturalization proceedings,” including not disclosing a criminal offense of any kind, even if there was no arrest. To test the severity of that position, Chief Justice John G. Roberts, Jr., confessed to a crime — driving 60 miles an hour in a 55 ­mile­ an ­hour zone many years ago without being caught. He then asked if a person who had not disclosed such an incident in his citizenship application could have his citizenship revoked. The lawyer answered, yes. There was “indignation and incredulity” expressed by the members of the Court. Justice Anthony M. Kennedy told the lawyer, “Your argument is demeaning the priceless value of citizenship.” Roberts put it simply. If the administration has its way, he said, “the government will have the opportunity to denaturalize anyone they want.”"

Fonte: "Who Is a ‘Criminal’?",­ The New York Times, 5/22/2017

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Até 100 KM/h a margem de erro dos equipamentos de medição é de 10 %. A partir de 100 a margem de erro é de 7 %.

    Por isso, as pessoas só são notificadas se ultrapassarem esta margem de erro dos radares.

    Não é uma tolerância em relação aos limites dos Códigos da Estrada - isso não existe.

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    1. Só não funciona quando o condutor não é branco. Deve ser intolerância...

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