quinta-feira, 11 de maio de 2017

Metro

Peguei num post que escrevi no facebook, e mandei o seguinte email a Assunção Cristas. Fica como carta aberta.

"Sou de esquerda, apoiante confesso da solução governativa atual e um admirador do trabalho do atual presidente da Câmara de Lisboa. Julgo que nunca votaria em si, mesmo que pudesse votar em Lisboa nas próximas eleições. Saí do país há cerca de quatro anos por causa, na minha visão, de uma política económica criminosa, que levou à obliteração de capacidade produtiva nacional, algo que pode ter hipotecado o futuro do país durante pelo menos uma geração.

 Tenho de fazer esta introdução para explicar o contexto do que escrevo a seguir. Aplaudo a coragem de ter feito a proposta que ontem fez relativamente à expansão do metropolitano de Lisboa. Apoio totalmente essa proposta, e repugna-me ver a reacção que o meu "lado" político teve à mesma. Deve ser por estas coisas que nunca pertenci a um partido político. Muitas das pessoas que chamam faraónica à sua proposta são as mesmas que não pestanejaram quando foi de meter milhares de milhões de euros de dinheiro público a salvar bancos privados (ainda há poucos meses, com o banif). Estender o transporte coletivo que centenas de milhares de pessoas usam por dia - uma opção que reduz a dependência energética, aumenta a produtividade, beneficia o turismo, reduz a poluição e os custos de saúde associados, reduz a pressão sobre os preços no centro da cidade, enfim, é estruturante e nuclear para a vida de todos os dias de centenas de milhares de pessoas - é "faranóico". Drenar milhares de milhões de euros de todos nós para premiar os crimes e incompetências de banqueiros pagos a peso de ouro é uma "inevitabilidade", por causa do "risco sistémico". Isto, para mim, é absurdo e inaceitável. É a negação de tudo aquilo que vale a pena em Política, e converte a discussão numa javadeira insuportável.

 Melhores cumprimentos, e obrigado novamente,

Luís Gaspar"

16 comentários:

  1. Espetacular. Concordo a 100% com as suas palavras. Excepto a parte da esquerda/direita que para mim é indiferente pois não tenho problemas nenhuns em votar PCP ou CDS consoante o que apresentar as melhores propostas em cada momento.
    Fiquei chocado quando vi um elemento do PCP a criticar a proposta estruturante da Assunção Cristas em termo de transporte público. Pode-se gostar ou não da senhora. achar que é mais ou menos populista, mas a ideia que ela propõe para mim faz todo o sentido. basta visitar qualquer outra cidade europeia para percebermos o quão pequena é a rede de metro lisboeta face ao tamanho da cidade. Se há investimento que faz sentido é esse. Quanto ao dinheiro obviamente que se terá de cortar noutras coisas mas este parece-me um investimento que faz todo o sentido e que demonstra visão.

    Uma coisa engraçada é que a minha mãe conta que quando começaram a ser feitas as primeiras estações de metro em Lisboa, penso que nos anos 70, este investimento também era muito criticado: afinal que sentido fazia construir um transporte entre a Almirante Reis e o Marquês do Pombal não é?!. Hoje em dia penso que ninguém imaginaria a cidade de Lisboa sem um rede de metropolitano

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    1. Obrigado, Rui. Também me parece ser assim. E seria bom que a malta fosse tão exigente a pedir uma análise custo benefício detalhada para outros investimentos, incluindo o que referi - injetar dinheiro nos bancos privados.

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  2. Obrigada ao quadrado! (Por escreveres o que disseste e também por escreveres. Antes do teu post, houve 12 posts meus... Um horror!!!)

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    1. Ora essa! É um prazer. O meu trabalho drena-me a energia toda para escrever :(

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  3. Explique lá, então, como é que o PIB cresce se a capacidade produtiva nacional foi obliterada.

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    1. Basta haver capacidade instalada por usar.

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    2. Quer isso então dizer que a capacidade instalada por usar não foi obliterada? Isso não me parece fazer muito sentido, ou então a 'obliteração' foi muito selectiva.

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    3. Imagine que a capacidade é 100 e que apenas se usa 80. dá para obliterar 10 e mesmo assim haver algum espaço para crescer.

      De qualquer forma o crescimento do PIB é medíocre, pelo que também não vale a pena fazer grande fogo de artifício com esse crescimento.

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    4. Sim, meu caro, eu sei disso. Mas o que o autor do artigo referiu foi "uma política económica criminosa, que levou à obliteração de capacidade produtiva nacional". Ora, mesmo tendo em conta a hipérbole do articulista, 10% está muito aquém da "obliteração de capacidade produtiva nacional", ainda para mais, "criminosa". Se tivesse sido, sei lá, 50%, poderia falar-se em obliteração; assim, não. Isto, independentemente de ser muito discutível a contenção do articulista de que houve "obliteração". Nem com o Vasco Gonçalves, qDt.

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    5. É de mim, ou o texto original foi alterado de "obliteração DA capacidade produtiva nacional" para "obliteração DE capacidade produtiva nacional"? É que há uma diferença. Mas, como o autor diz que se trata de "algo que pode ter hipotecado o futuro do país durante pelo menos uma geração", inclino-me para a hipótese de ele, sorrateiramente, ter corrigido o texto.

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    6. <>

      Os 10% foram um mero exemplo para você perceber que não havia nenhuma contradição. mas foi mesmo um mero exemplo, nunca me passou pela cabeça que fosse um efeito tão destruidor (ao contrário de si que parece achar que 10% é uma coisa pouca).

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    7. Não, eu não acho que 10% seja coisa pouca, só acho que daí a "obliteração" vai uma distância, e era de "obliteração que se falava.

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    8. Não, não alterei o texto. Aliás, essa parte até é um copy paste do meu post no Facebook. Tambem inalterado. Insinuar que alteraria posteriormente o texto de um e-mail enviado é um bocado rasteiro.

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    9. O que não seria nada rasteiro era você ter respondido às minhas perguntas, em vez de se deixar substituír pelo zelota do blog.

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    10. Ó homem, a resposta às perguntas que você fez é tão óbvia, que não sei que lhe diga. Olhe, entretenha-se: https://stats.oecd.org/glossary/detail.asp?ID=2094

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  4. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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