sexta-feira, 17 de março de 2017

Hygge

Lê-se "hoo-ga": aspira-se o h, como no inglês, parece-me. Ando a investigar as teorias da felicidade dos dinamarqueses e aprendi que os fulanos gostam muito de coisas acolhedoras, fazem muitas actividades com os amigos, perguntam-lhes se querem ir lá para casa para um evento "aconchegante" ou se querem ir "aconchegar". É natural que "aconchego" não seja a tradução literal de hygge porque os dinamarqueses são muito monopolistas da coisa. O Meik, que escreveu o livro que estou a ler, diz que os dinamarqueses são os únicos que usam hygge como verbo, mas acho que nós portugueses também falamos em aconchegar, mas não somos obcecados, nem convidamos a aconchegar.

Um livro sobre hygge num Starbucks hyggelig

No entanto, aconchegar faz parte das minhas obsessões de estimação. Uma das minhas primeiras memórias é mesmo de aconchego. Estava eu deitada na cama com a minha avó, quando tinha para aí uns quatro anos, e digo-lhe "Tenho frio, Bó!" Ela responde-me "Se ficares quietinha, aqueces num instante." Eu disse "Está bem.", sorri, e concentrei-me em ficar muito quietinha para aquecer. E resultou porque, sempre que eu estou com frio, escolho uma posição confortável, fico quietinha, e relaxo até aquecer. Aliás, ficar quietinha é uma arte que eu domino perfeitamente.

Ontem, quando acordei, o meu quarto estava frio porque tenho o aquecimento desligado. Deviam estar pouco menos de 20 C -- óptimo para vocês, talvez, mas para mim uma temperatura confortável é 23 C. Antes esteve bastante calor e eu tinha tirado a colcha de Inverno e o cobertor de lã, mas pensei que uma colcha mais fina fosse suficiente porque este ano, em Houston, estamos seis semanas adiantados em termos de temperatura. Só que arrefeceu um bocado e, há três dias, revi a minha decisão e meti um cobertor de pelúcia debaixo da colcha. Dizia eu que acordei no fresqquinho do quarto, mas debaixo dos lençóis estava-se tão bem que fiquei com aquela sensação quase infantil de felicidade pois a cama estava mesmo confortável, aconchegante, hyggelig, como dizem os dinamarqueses.

Já que estou com a mão na massa, tenho de vos dizer que um cobertor de pelúcia entalado entre lençóis de algodão engomados e uma colcha de algodão, tipo quilt, numa manhã fresquinha é um dos grandes prazeres da vida. Eu devia patentear esta ideia, até porque sou especialista disto, pois os meus amigos americanos dizem-me sempre que os meus quartos são muito acolhedores. Quando vivia na residência universitária, um dos meus namorados chegou a dizer-me que estava-se muito bem no meu quarto, mesmo quando eu tocava Tori Amos, que ele detestava; dizia que tudo combinava comigo. Se calhar, tenho costela dinamarquesa, mas é mesmo uma coisa interior porque no exterior pertenço a outras paragens.

Um quarto hyggelig na América...
(com uma foto das Berlengas, da Cláudia Casal, sobre a estante da direita

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