sexta-feira, 31 de março de 2017

Como ficar pobre

Depois da crise financeira de 2008 e de ter ficado sem emprego duas vezes, concluí que todos nós que dependemos do nosso trabalho para ganhar a vida, estamos a um ou dois eventos de ficar pobres. Nos EUA, em particular, isto é bastante real. Mesmo que sejamos qualificados, trabalhadores, com um bom CV, basta ter um azar e toda a nossa vida muda completamente. Esta minha tendência para pensar no pior não me ganha muitos amigos; pouca gente quer pensar em coisas tristes e, de vez em quando, dizem-me que sou um bocadinho chata, pessimista, obcecada por dinheiro, etc.

Muita gente não percebe que está tão próximo da pobreza porque o normal é não haver grandes azares na vida da maior parte das pessoas e depois há a questão da visibilidade: enquanto que alguém de sucesso é reverenciada, aparece em jornais, mostra a sua boa sorte nas redes sociais, quem tem azar é muito mais discreto voluntária ou involuntariamente. A pobreza não é sexy, a não ser que acabe em riqueza.

Só quem tem um stock de riqueza acumulado é que tem maior probabilidade de estar resguardado do risco de acabar na pobreza; mas, mesmo assim, é preciso ter um estilo de vida que não exausta essa riqueza ou essa riqueza tem de gerar retorno que compense o estilo de vida, o que requer algum conhecimento de gestão financeira. Afinal, há bastantes pessoas que conseguiram acumular boas fortunas e depois as perderam. Mesmo os que ganham a lotaria frequentemente acabam mais pobres do que antes de a ganhar.

No Washington Post, a Michelle Singletary, colunista de Finanças Pessoais, aconselha as pessoas a serem um bocado mais humildes, porque ninguém está livre de acabar pobre depois de um azar, ou mais, e recomenda a leitura de um texto de William McPherson, um jornalista do WashPost que ganhou o Prémio Pulitzer, nunca tinha sido pobre, mas acabou na pobreza porque decidiu trabalhar por conta própria em vez de manter o emprego, teve um ataque cardíaco, etc.

"McPherson says he miscalculated his money and financial skills. In 1987, at 53, he decided to leave The Post and write about Eastern Europe as a freelance journalist.

“I chose retirement because I was under the illusion — perhaps delusion is the more accurate word — that I could make a living as a writer and The Post offered to keep me on their medical insurance program, which at the time was very good and very cheap,” he writes. “The pension would start 12 years later when I was 65. What cost a dollar at the time I accepted the offer, would cost $1.44 when the checks began.”

He had investments — a 401(k), a Keogh — money from some real estate ventures, and even some inheritances. It would all have been enough.

Except, it wasn’t.

He spent more than he should have in Europe, and the cost of recovering from a major heart attack further drained his finances."


Fonte: Michelle Singletary, The Washington Post

1 comentário:

Não são permitidos comentários anónimos.