domingo, 22 de janeiro de 2017

Yes, we can!

Como deve ser do vosso conhecimento, na Sexta-feira, Donald Trump tornou-se Presidente dos EUA. O dia teria sido um completo desastre, não fora o nosso colega de blogue Nuno Garoupa estar em Houston e termos aproveitado para fazer um mini-jantar da DdD. No final de algumas horas a falar português, fiquei mais animada e pronta para a manifestação de Sábado.

De manhã, encontrei-me com alguns amigos americanos para participar na Women's March de Houston. Iniciámos a marcha em Jamail Skate Park, em direcção à City Hall. Pensámos que estávamos atrasados, mas chegámos mesmo na hora exacta e ficámos perto do início da marcha. A polícia estava à nossa frente a pé e abria caminho.


Em frente à City Hall, um palco tinha sido erguido. Tocava-se música como "Nasty" de Janet Jackson, "Respect" de Aretha Franklin, "Roar" de Katie Perry, "Ray of Light" de Madonna, "I'm every woman" de Chaka Khan, "We will rock you" dos Queen, etc. Os discursos foram antecedidos por duas actuações da Star Spangled Banner: a primeira cantada por uma menina de cinco anos; a segunda foi de uma rapariga que canta na ópera.

Segundo estimativas anunciadas durante a marcha, cerca de 22.000 pessoas compareceram, apesar de Houston não ser uma cidade muito dada a protestos. Foi uma marcha inclusiva, onde o Gabinete do Mayor, o Chefe da Polícia, e os organizadores da marcha cooperaram e nos seus discursos deram o seu melhor para nos sentirmos seguros e ouvidos. Esta marcha foi organizada em 10 dias e, neste curto espaço de tempo, até se conseguiu reunir fundos para alugar quartos-de-banho portáteis. Os oradores incluíam membros do Congresso, políticos locais, a Presidente do capítulo de Houston da League of Women Voters, etc.

Durante o seu discurso, o Mayor Sylvester Turner assegurou-nos de que as famílias não seriam separadas através de deportações de imigrantes ilegais. Nesta marcha vi várias pessoas que tinham autocolantes que diziam que eram ilegais e iam ficar. Disse-nos também que queria que nos sentíssemos seguros em Houston porque, como foi várias vezes repetido, Houston é uma cidade de imigrantes.

Houston tem a primeira pessoa transsexual que ascendeu ao posto de juiz nos EUA (neste momento há duas): chama-se Phyllis Frye e, em 1976, assumiu-se como mulher, apesar de ter nascido homem em 1948. Ela foi um dos oradores de hoje e alertou-nos acerca da lei do quarto-de-banho, que a legislatura estatal quer passar com a justificação de nos proteger de assédio sexual. De acordo com esta proposta de lei, as pessoas têm de frequentar o WC do sexo com que nasceram, um ataque claro aos transsexuais e que não nos dará protecções adicionais contra predadores sexuais, pois o enquadramento legal já está bem definido, com cerca de oito leis actualmente em vigor.

No final os oradores pediram-nos para nós, mulheres, nos envolvermos mais na política: para concorrermos a cargos públicos a nível local, para escolhermos uma causa e oferecermos o nosso tempo, talento, e dedicação. Várias pessoas disseram-me que se sentiam mais inspiradas e encorajadas ao ver tanta gente a manifestar-se pelos nossos direitos e bem-estar. Acho que ficámos com a sensação de que não estamos sozinhos e que as nossas preocupações são partilhavas por milhares de pessoas na nossa cidade, no nosso país, e no resto do mundo.

Pessoalmente, fiquei muito emocionada e senti vários arrepios por estar ali a participar naquele evento, até porque nós estamos do lado certo da História e, como foi dito, seria bom que, daqui a 50 anos, não tivéssemos de ainda estar a lutar por estas coisas. Num dos cartazes, uma senhora de cabelos brancos tinha escrito: "I can't believe we're still fighting for this sh*t!"
A última coisa que foi dita pelos animadores do evento foi "Yes, we can!"



















2 comentários:

  1. Uma manifestação para demonstrar repúdio por regimes e ideologias que tratam mulheres e gays como cães (antigamente), denunciar a sua interferencia em eleições americanas, ao mostrar preferencia (e financiar?) pela candidata Clinton e apoiar o Presidente que anunciou como prioridade combater essa ideologia e as organizações associadas? Acho oportuno e justo. Parabéns.

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  2. Cara Rita,

    Curioso que a malta que organizou esta marcha contra o Trump parece que nunca ouviu falar de Bill Clinton! :D

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