sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Desclassificado

Saiu hoje um relatório dos Serviços Secretos americanos acerca do papel da Rússia nas eleições presidenciais. O relatório foi desclassificado e está disponível no WashPost. O mais significativo que aconteceu hoje nem foi o relatório em si; foi o facto de Donald Trump, depois da reunião, ter admitido que a Rússia tinha feito alguma coisa.

Note-se que, hoje de manhã, segundo o NYT, três horas antes da reunião com os serviços secretos, Trump equiparava o foco na influência da Rússia a uma "caça às bruxas política" efectuada por rivais políticos desconsolados por terem perdido. Depois da reunião, a música mudou. Será que o Presidente-Eleito decidiu bater a bolinha baixinho? Não acho que seja algo que dure; mas ontem, James Wolsey, antigo director da CIA demitiu-se da equipa de transição de Trump, supostamente por causa da visão que Trump tinha para as "intelligence agencies" sobre a qual não foi consultado, o que é, no mínimo, estranho.

Apesar de tudo, sinto-me muito orgulhosa de mim própria porque nunca achei que Hillary Clinton fosse assim tão má como diziam as notícias e as pessoas com quem eu falava, ou seja, cumpri o meu papel de cidadã e defendi os interesses do país que me acolheu. Eu não sei acerca de vós, mas para mim jurar fidelidade a um país é uma coisa de muita responsabilidade e que eu levo muito a sério.

13 comentários:

  1. "cumpri o meu papel de cidadã e defendi os interesses do país que me acolheu"

    Porquê? Se tivesse votado Trump não teria cumprido?

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    1. Quer dizer que os 62 milhões de eleitores que votaram em Trump não cumpriram o seu papel de cidadão nem procuraram defender com o seu voto os interesses do seu país?
      Quer dizer que só o teriam feito se tivessem votado em quem procura influenciar as escolhas de governos estrangeiros, não através da divulgação de informação, sujeita a contraditório, mas ordenando o assassinato dos seus líderes?

      https://www.youtube.com/watch?v=jxIp8YBww3Q

      Estranho conceito de democracia, Rita.

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  2. Não percebo este chinfrim. Um dos principais argumentos eleitorais em que Hillary Clinton baseou a sua campanha, levando-o a todos os debates que teve com Trump, foi, sem que nunca tenha apresentado provas disso, a suposta ligação deste com a Rússia. O eleitorado rejeitou-a. Que outra leitura retirar senão que quem elegeu o Presidente dos Estados Unidos da América está mesmo interessado em acabar com a Guerra Fria?

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  3. Lendo tudo, só tem três parágrafos com importância (os que dizem que os serviços secretos russos tiveram acesso ao e-mail do Partido Democrata); tudo o resto resume-se a "o governo russo fez campanha contra Clinton, usando meios de comunicação controlados por ele" (e...? Para que é que todas as "grandes potências" têm meios de comunicação com impacte internacional, como a Voz da América, ou os serviços nternacionais da BBC? Não é para tentar influenciar a opinião pública nos outros países? Aliás, há uns anos até estava na moda a conversa que os EUA deveria usar mais o 'soft power', o que na prática é isso - tentar influenciar a opinião pública)

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  4. Esta conversa da ingerência russa nas eleições americanas está a tornar-se no mínimo caricata.

    O que são os russos afinal acusados de ter feito? De interferir no processo de contagem de votos? Não. De votar de forma fraudulenta por correspondência? Também não. De tudo isso se falou, e aparentemente não há quaisquer indícios de que tenha acontecido.

    Acusam-se os russos de terem usado técnicas "sofisticadas" para piratear sistemas informáticos do partido democrata e de terem usado a informação dessa forma obtida para espalhar podres sobre os democratas.

    Não são acusados sequer de (por exemplo) terem interferido de forma activa nos mui sofisticados processos de análise de dados que, segundo a Rita, iam garantidamente levar os democratas à vitória.

    Não, basicamente, a formidável ingerência russa resume-se a: entrar em servidores de email; publicar podres de forma mais ou menos dissimulada; propaganda nos órgãos de comunicação russos. E trolls na internet. Não esquecer os trolls.

    Os serviços de informações americanos não investigam o Putin e seus associados? (cúmulo do caritato: a própria notícia do NYT refere isso) Os EUA não se fartam de espalhar podres sobre Putin? Não usam os dados recolhidos para congelar bens, impor sanções económicas? Não condicionam dessa forma o exercício de poder, o financiamento da sua clique, etc? Estão a queixar-se de quê?

    Tudo isto seria interessante se tivesse sido orquestrado por Trump. Ou se Trump viesse a devolver o favor. E aqui chegamos ao ponto chave, porque é disso que isto se trata. O que se pretende é condicionar Trump. Trump não pode devolver o favor, mesmo que não o tenha pedido.

    PS: quanto às considerações sobre a Hillary ser menos má do que a pintam, outra das coisas que o relatório confirma é que aparentemente os podres são genuínos.

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    1. Eu tb tenho a mesma sensação. E tenho pena que Obama esteja a terminar tão mal o seu mandato.

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    2. Eu concordo com o Nuno: acho que os EUA se metem em coisas onde não deviam. Por exemplo, meteram-se na política portuguesa e não deixaram que Portugal fosse comunista. Foi um grande erro; mais valia terem estado quietos.

      P.S. Esse PS apenas me diz que o Nuno desconhece duas coisas: o que foi publicado na imprensa acerca de Hillary Clinton e a lei americana.

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    3. Não por acaso, um dos principais actores políticos americanos a influenciar a transição para a democracia, em Portugal, Kissinger, simpatiza com Trump, e não é russófobo.

      http://www.politico.com/story/2016/12/henry-kissinger-donald-trump-232785

      https://www.rt.com/news/331194-putin-meets-friend-kissinger/

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    4. Rita, se ler o meu comentário com atenção verá que eu não fiz qualquer juízo de valor relativamente à bondade de ingerências russas ou americanas.

      Mas se há papel que os EUA não podem assumir nesta história é o de virgem ofendida. Os EUA usam e abusam dos seus serviços de informação para tentar condicionar a política e os políticos de países aliados e rivais. A influência americana pode ser positiva, mas as técnicas são as mesmas.

      O que têm a fazer neste caso é assumir que outros países menos escrupulosos tentarão fazer o mesmo e defender-se disso. Tudo o mais é ridículo.

      Quanto a Hillary, reconheço que não acompanhei tudo o que foi dito durante a campanha. Mas este relatório confirma duas coisas. Primeiro, que tudo indica que os emails publicados são genuínos. Segundo, que o uso dum servidor privado (cuja segurança não é garantida pelo estado) enquanto secretária de estado é efectivamente grave, porque o resultado podia ter sido este.

      Se estas coisas foram importantes para o resultado não sei. Mas se não foram, não sei porque estamos a discutir uma ingerência russa que não teve influência no resultado.

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    5. A lei americana prevê que seja crime revelar ou enviar informação secreta por canais não seguros, se houver intenção de cometer o crime. Ora, os emails da Clinton e do Podesta podem ser genuínos, mas como não revelaram intenção de cometer crime não são criminosos. Os únicos emails criminosos que eu conheço (até agora) são os que se referem ao caso de Donna Brazen.

      Quanto às interferências dos EUA no mundo, há uma grande hipocrisia porque tanto acusam os americanos de interferir, como de não interferir e ainda estou para saber o que é que as pessoas querem, afinal. Os americanos têm um enquadramento legal no qual interferências dos outros países não são toleradas, logo estão apenas a seguir a lei da terrinha; mais uma vez o que querem, que se ignore a lei para não dar a impressão de ser virgem ofendida?

      Para além disso, tu não me digas que, se os americanos tivessem interferido nas eleições da Rússia, a Rússia não se armaria em virgem ofendida. Sabes porque é que o Putin não gosta de Hillary Clinton e preferiu o Trump? Porque ela acusou-o de cozinhar as eleições russas. Porque é que o Putin invadiu a Ucrânia, não foi por se sentir ofendido de a Ucrânia estar a negociar com a UE? Talvez ficasses mais feliz se, em vez de virgem ofendida à la Obama, os EUA agissem como bully à la Bush e Putin.

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    6. Eu não disse que os emails eram criminosos, disse que continham podres ou roupa suja (como quer que lhe queira chamar) aparentemente genuína.

      A questão dos uso do servidor privado enquanto sec. estado é diferente, embora este caso realce bem a importância de seguir certas regras, por muito inconvenientes que sejam, e que mesmo informação não classificada pode ser bastante sensível.

      Acho normal que as interferências externas não sejam toleradas. Mas o papel dos EUA (e das agências de segurança) é defenderem-se delas.

      Se uma eleição foi influenciada por técnicas tão amadoras como phishing duma conta Gmail, isso é imputável a um falhanço dos intervenientes (e das agências de segurança) em defender informações vitais.

      Normalmente, dir-se-ia (e com razão) que estou a culpar a vítima, mas se a vítima são os EUA, são tudo menos indefesos e seguem o mesmo livro de regras do agressor.

      Se estes emails são de tal forma importantes para os EUA, cabe aos serviços de informação contribuir para a sua segurança e aos intervenientes acatar as recomendações dos primeiros.

      Procurar culpados serve de muito pouco.

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  5. Putin invadiu a Ucrânia por esta negociar com a UE? Ou a UE e os EUA patrocinaram um golpe de Estado que removeu um governo legitimamente eleito e lançou o país numa profunda recessão, com alguns milhares de mortos pelo caminho?

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