sábado, 2 de julho de 2016

Um governo derrotado

"Em 2017 vamos ter uma vantagem enorme. Estamos neste momento a implementar um exercício de revisão da despesa que vai estar concentrado, em 2016/2017, no sector da saúde, educação, nas empresas públicas e nas compras públicas. Desse exercício, e com um conhecimento muito mais detalhado daquilo que é o conjunto de despesas do sector público, promoveremos a identificação dessas poupanças. Posso garantir que o OE de 2017, só por essa natureza, vai estar muito mais detalhado nessa dimensão e vai ser solicitada uma identificação bastante mais detalhada das despesas."

~ Mário Centeno, Público, 6/29/2016

Depois de prometer crescimento médio de 2,6% durante a legislatura, rever para 2,1%, depois 1,8%, e agora dizer que será sorte a economia crescer a 1,2%, e mesmo a 1% é difícil, chega-nos a notícia de que Portugal negociou com os credores empurrar €1.012 milhões de dívida, que devia ser paga entre 2017 e 2019, cerca de oito a 20 anos. Ou seja, os orçamentos de 2017-2019 do corrente governo, de repente, serão muito mais fáceis de gerir, que se lixem os dos governos a seguir.

Mas isto também é uma admissão de que este governo tem tanta fé que a sua governação irá colocar o país num rumo sustentável de crescimento, que a sua forma de "resolver" os problemas da dívida enorme e de ter uma economia que não cresce o suficiente para acompanhar os juros da dívida pública, nem as responsabilidade do estado, é empurrá-los para o futuro. Lembram-se do último Primeiro-Ministro que governou assim? Foi José Sócrates.

E depois os alemães é que são os maus da fita!

P.S.1. Acho delicioso que estas coisas sejam anunciadas nos dias em que Portugal joga no Europeu. E, já agora, vejam lá se o Ministro das Finanças falou da negociação com os credores na entrevista ao Público.

P.S.2. Vocês não se sentem insultados por o governo presumir que não terão capacidade de compreender todas estas manobras de diversão? Eu sinto!

6 comentários:

  1. Rita, concordo totalmente com o teu post, naturalmente. Faço este comentário, porém, por causa do teu segundo post scriptum. Sinceramente não me sinto insultado especificamente por isso. Se lhes ligasse alguma coisa sentir-me-ia insultado é por o governo saber que pode dizer tudo isto e pior com a certeza absoluta de que nenhuma destas intrujices será compreendida por 80% da sociedade Portuguesa (ok, hoje estou generoso...) e a comunicação social também não irá causar qualquer incómodo. Mas isto não é culpa do governo nem do min fin. Eles limitam-se a fazer o pão com a farinha que têm mais à mão.

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  2. Não vejo qual é o espanto. A reestruturação de dívida faz-se permanentemente, em qualquer Estado ou qualquer empresa. Só não rola dívidas quem está falido.

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    1. NG, o problema não é rolar dívida; o problema é rolar dívida num cenário de estagnação do PIB. Vão fazer o quê com a folga que irão ter? Não vão aplicar o dinheiro de forma produtiva, logo não faz sentido adiar o pagamento. Suspeito que já não tenham dinheiro e precisem de se endividar mais para o país ficar estagnado. Sócrates dejá vu...

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  3. grande gestão por parte do Mário Centeno. Não me sinto nada insultado. São óptimas notícias e revelam competência na área financeira.

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  4. A discussão já tem uns dias mas... Quando equivalentes operações foram feitas pelo governo anterior o coro de críticas que passava nos media. Agora a mesma operação já é competência. No tempo do governo anterior andava-se a clamar por renegociação da dívida sem perceber que isto é renegociar dívida. Agora já sabem o que é renegociar dívida. É um país ridículo este que anda sempre nisto de criticar o que não foi feito pelo seu clube...

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    1. Concordo consigo, mas o que me incomoda nisto não é tanto esse aspecto; é o facto do governo dizer que as coisas irão melhorar porque a economia irá crescer com as políticas que segue; quando, na realidade, não só as políticas que segue não produzem fruto, como adia mais a dívida sem que haja o crescimento necessário para comportar o custo adicional. Ainda por cima criam confusão e assustam os investidores, o que aumenta as yields da dívida pública e encarecem estas operações.

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