sexta-feira, 29 de julho de 2016

Os bons resultados

Como escrevi há dois dias, fez-me imensa confusão a redução de encargos com o desemprego verificada no primeiro semestre deste ano. Algumas pessoas comentaram e deram várias sugestões para esta diminuição, por exemplo, menos encargos em estimular o emprego ou haver mais desempregados que atingiram o limite dos 18 meses em que podem receber subsídio de desemprego.

O problema que eu tenho decorre principalmente do erro da previsão. É incompreensível não saber o número de pessoas que está prestes a completar 18 meses de subsídio de desemprego, ou não prever que se vai baixar o esforço monetário dedicado a estimular o desemprego, ou seja, estas duas possibilidades indicariam que o governo agiu de má-fé quando produziu as estimativas que colocou no orçamento. As únicas possibilidades legítimas para se fazer um erro do tipo que foi feito são (i) haver uma boa actuação da economia e estas pessoas conseguirem emprego, e (ii) as pessoas saíram do mercado de trabalho voluntariamente, e.g. emigraram, arranjaram um parceiro rico e deixaram de trabalhar, etc.

O post do Pedro Bação acerca da taxa de desemprego ter caído em Maio e ter-se mantido em Junho, levou-me a ir consultar os relatórios recentemente publicados pelo INE. Em 19 de Julho, o INE publicou um relatório onde concluiu o seguinte:

"According to the monthly estimates of the Labour Force Survey, the seasonally adjusted unemployment rate (15 to 74 years old) was 11.6% in May, remaining unchanged from the final estimate for April. The employed population (15 to 74 years old), seasonally adjusted, decreased by 0.6% comparing with the previous month level and by 0.3% when compared with May 2015."

Fonte: INE, 19/7/2016

No relatório de 30 de Junho de 2016, tinha-se publicado o seguinte:
"The provisional unemployment rate estimate for May 2016 was 11.6%, remaining unchanged from the definitive estimate for April 2016.
The provisional unemployed population estimate for May 2016 was 587.4 thousand people, down 0.9% from the definitive estimate for April 2016 (less 5.2 thousand people). The provisional employed population estimate was 4,479.6 thousand people, down 0.6% from the previous month level (less 26.7 thousand people).
In these estimates, it was considered the population aged 15 to 74 and the values were seasonally adjusted."

Fonte: INE, 30/6/2016


Entretanto, a taxa de desemprego de Maio foi revista, como disse referiu o Pedro Bação, e baixou para 11,2%, que se manteve em Junho, provisoriamente, de acordo com um relatório publicado pelo INE, nove dias depois:

"The provisional unemployment rate estimate for June 2016 was 11.2%, remaining unchanged from the definitive estimate for May 2016.
The definitive unemployment rate estimate for May 2016 was 11.2%, being revised downwards by 0.4 percentage points from the provisional estimate released one month ago.
The provisional unemployed population estimate for June 2016 was 568.8 thousand people, down 0.7% from the definitive estimate for May 2016 (less 4.0 thousand people). The provisional employed population estimate was 4,532.3 thousand people, up 0.2% from the previous month level (more 7.7 thousand people).
In these estimates, it was considered the population aged 15 to 74 and the values were seasonally adjusted."

Fonte: INE, 28/7/2016

Quem compara sumário do relatório de Junho com o de Julho fica de pé atrás. Dizia-se que, em Maio, a população empregada tinha diminuído em mais de 26 mil almas, mas a taxa de desemprego também diminuiu -- estas duas coisas juntas levantam questões, não clarificam. O que concluir destes números? Há várias possibilidades, como ou houve muita gente que atingiu os 74 anos em Maio (estranho), ou reformaram-se, ou emigraram, ou morreram, ou arranjaram um emprego não-declarado nas Finanças, ou o número provisório estava errado. Ontem fiz o download dos números mais recentes e confirmam a última possibilidade. Como o Pedro Romano fez um bom post, hoje, no Desvio Colossal sobre isto mesmo, remeto-vos para lá.

Antes de começarem a soar as trombetas da vitória, ainda é preciso esperarmos pela estimativa do crescimento do PIB do segundo trimestre para saber se esta boa evolução do emprego tem alguma repercussão na taxa de crescimento da economia. As pessoas terem um emprego é uma condição necessária, mas não é suficiente: é necessário também que os empregos criem valor para a economia. É nesta parte que Portugal frequentemente falha. E, se as estimativas da evolução da receita dos impostos no primeiro semestre estão correctas, o risco de se ter falhado aí é considerável.

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