quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Vanglória

Fontes Pereira de Melo deve ser o único político do século XIX de quem os portugueses ainda têm uma vaga ideia. O resto é uma longa galeria de heróis e vilões votados ao esquecimento. Nem o espalhamento dos seus nomes por praças, ruas, avenidas, pontes, edifícios (Mouzinho da Silveira, Saldanha, Passos Manuel, Hintze Ribeiro, Rodrigo da Fonseca Magalhães, Costa Cabral, etc.) os salvou do olvido. Não sei bem que significado atribuir a este facto.
Para os gregos da Antiguidade, ser político significava alcançar a mais elevada possibilidade da existência humana. Só a exposição da vida pública permitia absorver e fazer brilhar através dos tempos qualquer coisa que os homens queriam salvar da ruína natural do tempo - privado tem origem na aceção de “privação: estar privado de ser visto e ouvido por todos.
A partir de determinada altura as coisas começaram a mudar. A pretensão dos cristãos de seres livres de envolvimento em assuntos mundanos, livres de todas as coisas terrenas, foi precedida pela apolitia filosófica da última fase da Antiguidade, e nela teve origem. A partir daí, a necessidade de admiração pública passou a ser vista como vanglória, como lhe chamou Hobbes.
O tempo enterra tudo. Daqui a 100 anos, quantos dos nossos heróis da III República serão ainda recordados pelo povo? Para já, penso que Soares e Cavaco são os únicos candidatos sérios a ocupar um lugar semelhante ao de Fontes Pereira de Melo - que nessa altura, provavelmente, já ninguém saberá quem foi.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não são permitidos comentários anónimos.