quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Contas à vida

Há coisas que se passam em Portugal que são, no mínimo, estranhas. Por exemplo, quando o ex-Ministro da Economia Álvaro dos Santos Pereira disse que tinha cálculos paralelos do desemprego em Portugal porque não confiava nas estimativas oficiais. Ou quando Cavaco Silva este ano disse que os números do governo de Pedro Passos Coelho conferiam com as contas que ele mantinha em paralelo.

Se o Presidente da República sentiu necessidade de ter uma contabilidade paralela é porque, a certa altura, não confiava nos números dos outros--será que alguém se importa de perguntar aos candidatos presidenciais se vão seguir o exemplo de Cavaco Silva? Acho que ninguém liga a estas revelações, mas se isto se passasse nos EUA seriam sinais de alerta de que algo estava muito mal e não me surpreenderia se o Congresso mandasse investigar o porquê da falta de confiança em números oficiais.

Valha-nos a Mariana Mortágua. Na quarta-feira passada, José Azevedo Pereira, antigo director dos Impostos, revelou que havia indicações que os mais ricos em Portugal não pagavam impostos na mesma proporção em que pagam noutros países do mundo; para além disso, a equipa que trabalhava nas contas dos mais ricos parece que tinha sido desmantelada. Passaria despercebido, não fora a Elibabete Miranda no Jornal de Negócios ter escrito uma peça de opinião que se tornou viral. Entra Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, que quer saber o porquê da coisa.

Não concordo com tudo o que a Mariana Mortágua diz ser o melhor para Portugal em termos de receitas para o crescimento; mas ela, a sua curiosidade, e falta de temor em confrontar os poderosos são, sem dúvida, muito bons para Portugal. É uma grande infelicidade que Catarina Martins não seja um centésimo do que Mariana Mortágua é.

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