quinta-feira, 2 de julho de 2015

Da falta de previdência

Maquiavel dava muita importância à “fortuna”, que ele via como a expressão do resíduo irracional, do imponderável, do imprevisto, da margem de inexplicabilidade que se encontra em toda a história. O génio florentino achava que a fortuna é senhora de metade dos nossos actos, mas que nos deixava governar a outra metade. Maquiavel compara a fortuna a um daqueles rios impetuosos que “enfurecidos, inundam as planícies, derrubam as árvores e as casas, arrastam montes de terra de um lado para o outro: todos fogem diante deles, todos cedem à sua fúria, sem poderem resistir-lhes.”
Embora os rios sejam de tal sorte, os homens previdentes, em períodos de calmaria, podem construir “resguardos e diques”, de modo que os rios, se voltarem a transbordar, se escoem por um canal ou a sua fúria não seja tão “desenfreada e ruinosa”.
No período de calmaria, nenhum génio na Europa se lembrou de construir “resguardos e diques” para poder escoar por um canal as crises do euro e tornar menos ruinosas e desenfreadas as fúrias dos mercados e dos povos. Só agora, com as planícies inundadas, com as árvores e as casas a abanarem, é que se lembraram da importância dos “resguardos e diques”. A isto chama-se imprevidência.

2 comentários:

  1. eu diria que foram imprudentes e não imprevidentes, porque não é verdade que ninguém se tenha lembrado da necessidade dos diques.

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    1. Acho que tens razão, imprudência é capaz de ser a palavra mais exacta,

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