quarta-feira, 13 de maio de 2015

À minha espera

Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

Todos os dias, permitindo o tempo, passeio os meus cães na minha vizinhança. O normal é passearmos duas vezes por dia. Gosto bastante desta vizinhança, pois tem passeios e a vegetação é muito bonita, como podem ver nas fotos abaixo. Se calhar, vão achar surpreendente, mas estou muito próxima do centro de Houston, apesar de isto ser Bellaire, que é uma cidade dentro da cidade de Houston. Eu estou dentro do segundo anel de Houston, mas muito próximo do primeiro; cada anel é formado por uma via rápida, que é intersectada por autoestradas inter-estaduais.

Ontem à tardinha, "essa hora dos mágicos cansaços", como disse Florbela Espanca, ao passear na minha rua, fui interpelada por uma vizinha, uma senhora já de idade avançada que se movimenta lentamente, que me disse "When are you coming to visit my mid-century modern house? I am there every day." Lembrei-me depois do que acontecera há cerca de um ano, durante o meu passeio matinal. Quando eu passava pela casa dela, ela vinha em direcção ao passeio para apanhar o jornal e eu antecipei-me, apanhei o jornal e, ao dar-lho, disse-lhe "I love your house. It is my favorite house in the neighborhood and I love mid-century modern style."

Trocámos algumas palavras e eu disse-lhe que tinha mudado para a vizinhança recentemente. Ela convidou-me para a ir visitar para que me pudesse mostrar a casa. Eu já várias vezes pensei nisso, mas senti-me sempre um bocado desadequada ao pensar em bater à porta de uma pessoa que eu não conheço e estar a incomodá-la.

Foi errado da minha parte pensar assim. Durante o último ano, ela esperou por mim todos os dias e, ao ver-me outra vez, lembrou-me que o convite ainda estava aberto e eu estava em falta.

A minha rua, que tem um "cul de sac", que estava atrás de mim

A rua de acesso à minha rua

À saída da minha porta de casa

2 comentários:

  1. Esses relvados todos ao longo das ruas, quem trata deles? Quem paga para eles estarem assim todos bem aparadinhos? São terreno público ou privado?

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    1. Cada residente cuida do seu jardim e dos relvados. Todos os espaços verdes das minhas fotos são propriedade privada. A rua é que é propriedade pública. Não sei quem fez os passeios aqui, mas, em algumas cidades nos EUA, os passeios são da responsabilidade de quem constrói a casa; noutras cidades, os passeios são feitos pela cidade. Nem todas as cidades obrigam a existência de passeios.

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