sábado, 4 de abril de 2015

O fado e a cidade

Vou contar-vos um pequeno milagre que aconteceu em Setembro, quando eu estive em Portugal. As minhas férias consistem de uma pequena tournée, vou de cidade em cidade ter com os meus amigos. Às vezes, são amigos antigos da faculdade ou até do preparatório; outras vezes são pessoas mais recentes que eu conheci pelo Facebook. A tradição que iniciei é fazer três jantares que são marcados antecipadamente: um em Lisboa, outro em Coimbra, e outro no Porto. Quem quiser ver-me, aparece nesses jantares. Depois há os jantares espontâneos porque eu, para mal dos pecados de muita gente, estou sempre ligada ao telemóvel a conversar com alguém. Nada mau para uma introvertida inveterada? Quando eu morava numa residência durante o mestrado e doutoramento, deram-me várias alcunhas: The "Flower Child", Social Butterfly, etc. Em Setembro houve dois jantares espontâneos memoráveis.

O primeiro foi em Coimbra, no qual eu e várias amigas nos reunimos no À Capella. A minha amiga Sofia S. tinha-me falado neste local e tinha-me prometido levar-me lá na minha próxima visita e eu fiz uma nota mental e depois relembrei-a da promessa. Então, o jantar começou com ela e eu e depois juntaram-se mais umas amigas. O giro é que era tudo mulheres e de várias gerações. Na varanda do À Capella, há uma vista fabulosa de Coimbra. É mesmo um sítio especial. Jantámos e conversámos e, pelo meio, havia uns intervalos em que se cantava fado de Coimbra.

Ficámos até ao fim do espectáculo e depois demorámos muito tempo a planear o que fazer a seguir. A Sofia sugeriu ir dançar, mas nada se concretizou. Toda a gente saiu do restaurante menos nós e um outro grupo de pessoas. Nesse grupo havia uma jovem, que parecia ter idade de andar na escola secundária, e estava acompanhada por pessoas mais velhas. Talvez alguém com os pais e amigos destes, pensei eu. O restaurante já tinha as portas fechadas e eu até pensei ser estranho nós ainda não termos sido convidadas para sair. Esta flexibilidade é uma coisa boa portuguesa; se fosse nos EUA, tinham-nos chutado para a rua.

A certa altura, algumas pessoas sobem ao palco e começam a preparar-se para actuar. Nós tivemos o bom senso de não levantar acampamento. Ia ser mais fado e a fadista ia ser a jovem da mesa ao lado. Fez-se silêncio e ela começou a cantar. Quando ela começou, senti o meu corpo vibrar e arrepiei-me com o som da sua voz. Claro que chorei! Eu choro em público quando vale a pena. A jovem, de seu nome Beatriz, estava a actuar para uns produtores e nós, por acaso, estávamos no sítio certo, à hora certa para também a ouvir.

Durante a actuação ela fez alguns intervalos e veio conversar connosco. Tem 17 anos, anda no secundário, e já canta fado há vários anos. É uma pessoa tão cândida, sabe mesmo bem estar ao pé dela. Estava para sair um disco dela em Janeiro, mas ainda não saiu. Mas está para sair agora e a Beatriz, que é super-simpática e com quem eu falo no Facebook, tem a gentileza de me dizer sempre que alguma coisa está para acontecer. E agora eu vou retribuir a gentileza dela e vou dizer-vos a última coisa que aconteceu: finalmente, temos um vídeo da Beatriz a cantar fado. Está na página profissional dela no Facebook.

Olá Meus Queridos! Nesta época, tão especial, quero levantar uma pontinha do véu e mostrar-vos um pouco do que vai ser o meu álbum de estreia.Uma Feliz e Santa Páscoa!!Beijinhos, Beatriz"Pintadinho" José Mariano/José António SabrosaBeatriz voz Ricardo Dias piano Bernardo Couto guitarra portuguesa Carlos Manuel Proença violaBernardo Moreira contrabaixo Gravado e misturado/recorded and mixed por/by Mário Barreiros no/at à Capella, Coimbra, 24 de Novembro, 2014Produção e realização: Sublimédia

Posted by Beatriz on Saturday, April 4, 2015

Mas neste vídeo, no contrabaixo, está Bernardo Moreira. Eu tive o prazer de o ouvir ao vivo noutro jantar impromptu, este com o meu querido amigo Nuno O., em Lisboa. Não me recordo do nome do restaurante, mas tenho de descobrir, porque quero lá voltar. E talvez encontre mais alguém especial a actuar...

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