sábado, 25 de maio de 2013

Propriedade transitiva da bibliografia

Há alguns anos tive de lidar com uma das situações mais aborrecidas na vida de um professor. Um aluno entregou-me um trabalho que era cópia integral de outro que se encontrava na internet. Naturalmente, desqualifiquei o trabalho.
Quando saíram as notas, o aluno, chocado, contactou-me por email. Disse-lhe que tinha cometido plágio, uma forma grave de fraude académica, e que, portanto, o seu trabalho tinha sido anulado. O aluno insistiu que não tinha feito nada de errado e exigiu encontrar-se comigo para esclarecer tudo.
No meu gabinete, explicou-me que não tinha feito nada de errado porque também tinha copiado integralmente a bibliografia do trabalho plagiado.
Perante os pontos de exclamação e interrogação que eram visíveis na minha cara, esclareceu-me: apesar de ter omitido a principal fonte de inspiração do seu trabalho, tinha explicitado as fontes que a sua fonte tinha usado. Digamos, por assim dizer, que a bibliografia tinha qualidades transitivas.
Perante o meu inusitado espanto com a explicação, insistiu: dado que o autor se tinha baseado naquela bibliografia, caso a tivesse lido, também teria escrito um trabalho semelhante.
Lembrei-me desta história, verídica, ao ler este comentário de João Távora a esta entrada da Ana Matos Pires.

1 comentário:

Não são permitidos comentários anónimos.