segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A grande ilusão

Em, 1911, o economista britânico Norman Angell publicou um livro intitulado "A grande ilusão", que se tornaria um grande êxito, com edições sucessivas, publicadas antes da I Guerra Mundial, traduzidas para várias línguas, ultrapassando um milhão de exemplares vendidos em todo o mundo. Angell resume a opinião dos meios dirigentes da época: “ As finanças internacionais estão hoje a tal ponto interdependentes e ligadas ao comércio e à indústria que o poder militar e político não pode na realidade fazer nada.” Uma afirmação demasiado peremptória. Passado pouco tempo, o título do livro tornar-se-ia involuntariamente irónico. No fatídico dia 28 de Junho de 1914, o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro dos Habsburgos, e a sua mulher foram assassinados em Sarajevo (capital da Bósnia), por um jovem sérvio de 20 anos, de seu nome Gavrilo Princi, membro da “Mão Negra”, organização terrorista sérvia – a província da Bósnia-Herzegovina havia sido anexada à Áustria em 1878 e era reivindicada pela Sérvia.
Os dois tiros de pistola em Sarajevo arrastaram inadvertidamente a Europa para a mais terrível das guerras: nove milhões de mortos, a revolução russa em 1917 (por causa da guerra o czar Nicolau II viu-se obrigado a abdicar em março), a extinção do Império Austro-Húngaro, da Alemanha imperial e do império Otomano e o completo desmembramento da Europa Central. Tudo isto trazia o embrião da guerra seguinte, ainda mais catastrófica do que a precedente.
No mundo de 1911, quando Norman Angell publicou o seu famoso livro, nada parecia anunciar os terríveis acontecimentos posteriores. Penso que se podem tirar, pelo menos, duas conclusões daqui. Primeira, o mundo de 2013 também não anuncia aquele em que viverão os netos e os bisnetos dos europeus de hoje - o erro de toda a prospectiva é imaginar o futuro como um prolongamento do presente; segunda, devemos, todavia, prestar atenção aos sinais – afinal de contas, dois tiros de pistola podem ser o detonador de um cataclismo.

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