terça-feira, 26 de junho de 2012

Simular política monetária com a fiscalidade

De momento, as empresas enfrentam sérias dificuldades por falta de crédito dos bancos. Grande parte destes problemas resolver-se-ia se o Estado (quer o central, quer as autarquias) pagasse o que deve. Tal, sabemos bem, é utópico. Sabemos também que outra das dificuldades que as empresas enfrentam de momento se prende com dívidas ao Estado e com uma máquina fiscal cada vez mais agressiva na cobrança dessas dívidas.
Há uma forma de a curto prazo ajudar estas empresas. Bastaria, simplesmente, permitir que as empresas possam pagar dívidas ao Estado com os créditos que detêm sobre Estado. Muitos problemas de tesouraria desapareceriam. As empresas pagariam ao Estado com as dívidas do Estado, ficando com mais liquidez para outros pagamentos e investimentos.
Até se deveria ir mais longe e permitir que as empresas pudessem fazer pagamentos entre elas com créditos do Estado. Uma empresa que tem 100€ a haver do Estado poderia entregar esse crédito a outra empresa, que ficaria então com esse crédito sobre o Estado. Adicionalmente, se essa empresa devesse 100€ ao Estado, poderia entregar esse certificado como pagamento, saldando assim a sua dívida.
Este encontro das dívidas e dos créditos do Estado traria transparência à contabilidade pública. Adicionalmente, parte das dívidas compensar-se-ia com os créditos, o que diminuiria o valor contabilístico da dívida pública.
No fundo, esta era uma forma de Portugal fugir à ditadura do Banco Central Europeu e aumentar a oferta de moeda em Portugal. Este aumento dos meios de pagamento seria um balão de oxigênio para bastantes empresas e replicaria, parcialmente, os efeitos de uma política monetária expansionista que, de momento, tanta falta faz a Portugal.

Por vezes, futebol é o que nos resta

Fuga para a vitória.

domingo, 24 de junho de 2012

Um pequeno twist

Sempre foram os PIGS a chegar às meias-finais. Infelizmente, com um pequeno twist: G stands for Germany and not for Greece.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Porcos gostam da bola

Se a Grécia ganhar hoje, a possibilidade de ter quatro PIGS nas semifinais do futebol é uma realidade. Não sei muito bem que pense, limito-me a imaginar o que escreverá Pacheco Pereira.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Alemanha - Grécia

Muitos talvez não saibam, mas um encontro entre a Alemanha e a Grécia, num jogo a sério, não é novidade.
Deixo aqui imagens do mais famoso jogo entre estas selecções. Pela Alemanha jogava Beckenbauer.

PS Ganhou a Grécia.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sergio Godinho - "Arranja-me um emprego"

Esta música é de finais dos anos 70. É ainda mais actual hoje do que na altura em que foi lançada. Infelizmente, essa actualidade deve-se não à qualidade da música (Sérgio Godinho tem bastante melhor), mas sim à merda da actualidade em que vivemos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

E pelo Euro, ninguém dá nada?

Ontem o governo alemão endividou-se a 6 anos com uma taxa de juro negativa. Não sei se será inédito, mas é, no mínimo, muitíssimo raro. O que quer isto dizer? Quer dizer que quem comprou a dívida, entregou ao estado alemão mais do que o valor que vai receber aquando do reembolso da dívida.

Aos alunos de economia é costume explicar que uma taxa de juro nunca pode ser negativa porque o credor tem sempre a opção de guardar o dinheiro dentro de um cofre, ou debaixo do colchão, o que tem uma rendibilidade maior do que emprestar a uma taxa de juro negativa. Numa frase, ao menos não perde dinheiro.

Como é então possível que a Alemanha tenha conseguido financiar-se a taxas negativas? Só encontro uma explicação. Os investidores consideram que ter Euros num cofre é mais arriscado do que ter dívida alemã. Ou seja, os investidores têm medo que o Euro estoire. Entre a incerteza do que vem a seguir ao euro e deter dívida alemã, preferem esta última. Cada vez mais os mercados temem o Euro.

PS Vejam os comentários abaixo, em especial os esclarecimentos do Paulo.

domingo, 10 de junho de 2012

Maus ventos de Espanha

O governo espanhol divulgou há poucas horas o pedido de resgate para os bancos – e não para o Estado, como o ministro da economia Luís de Guindos não se cansou de sublinhar na conferência de imprensa. O “empréstimo”, como lhe prefere chamar o ministro, pode ir até aos 100.000 milhões de euros e, supostamente, assegurará a liquidez de 30% do sistema bancário que se encontra à beira do abismo.
Como é sabido, tal como está desenhada, a normativa para os fundos europeus de resgate destina-se apenas aos países - ainda que na cimeira de Julho de 2011 se tenha vagamente previsto a possibilidade de recapitalização de sistemas financeiros. A troika constituída pela Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu já se havia manifestado a favor da modificação das regras para poder salvar directamente a banca. Mas para isso tinham de convencer primeiro Merkel. A solução entretanto encontrada é uma trapalhada. O dinheiro é para os bancos, mas, ao mesmo tempo, haverá, ao que consta, uma fiscalização mais apertada às contas públicas e às reformas estruturais levadas a cabo pelo governo e o pagamento do "empréstimo" é, para todos os efeitos, uma responsabilidade do Estado.
Enfim, andaram todos (em especial o governo espanhol) a tentar ganhar tempo para não ficarem mal na fotografia - um esforço inútil, claro.
Já em plena crise, Zapatero disponibilizou-se para explicar à Europa e ao mundo as virtudes do modelo financeiro espanhol, um exemplo que devia ser seguido em termos de supervisão e regulação. A banca espanhola, diziam-nos, era das mais sólidas do mundo e os bancos espanhóis eram dos melhores do planeta. Em pouco tempo, desfez-se a ilusão: os bancos ficaram em mãos com milhares de casas que ninguém quer. É cada vez mais difícil perceber onde anda a verdade.
De Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos, foi-nos ensinado durante muito tempo. O medo e a desconfiança ancestrais de Espanha desapareceram durante a minha geração e deram lugar a uma genuína curiosidade e admiração pelos nuestros hermanos. De repente, os ventos de Espanha voltam a assustar. Só que desta vez corremos o risco de não se safar ninguém. Vamos ao fundo juntos.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Raízes quadradas contra Portugal

No seu emprego, há uma bolsa de apostas a decorrer. Será que Portugal ganha à Alemanha? Por momentos, esqueça que o empate é possível. Deve apostar contra ou a favor de Portugal?
Admita que x representa o resultado de Portugal e que y capta o resultado da aposta. Vamos partir do pressuposto de que é avesso ao risco. Ou seja, que tem uma função estritamente utilidade côncava.
Sejamos concretos e admitamos que a sua função utilidade é dada por uma raiz quadrada: u(x,y)= √(x+y). Admita ainda que x=0 se Portugal perder, x=10 se Portugal ganhar, y=5 se ganhar a aposta e, finalmente, y=0 se perder a aposta
Para se  fechar o problema, é ainda necessário saber qual a probabilidade que atribui à vitória de Portugal. Suponhamos que essa probabilidade é dada por p.
Com todos estes dados podemos determinar, ex ante, qual a utilidade esperada de apostar em Portugal: p√(10+5)+(1-p)√(0+0).  Ou seja, com probabilidade p, Portugal ganha, e nesse caso x=10 e y=5. Com probabilidade (1-p) perdemos pelo que x=0 e y=0.
Se apostar contra Portugal a utilidade esperada é dada por p√(10+0)+(1-p)√(0+5).  Ou seja, com probabilidade p, Portugal ganha, e nesse caso x=10 e y=0. Com probabilidade (1-p) perdemos pelo que x=0 e y=5.
Deve então apostar na opção que lhe dá mais utilidade, ou seja, deve apostar em Portugal se p√(10+5)+(1-p)√(0+0)> √(10+0)+(1-p)√(0+5).
Fazendo as contas, concluirá que só deve apostar em Portugal se p>0.7588. Ou seja, só se considerar que a probabilidade de Portugal ganhar é superior a 75% é que deve apostar de forma patriótica.
Apostar na Alemanha é como comprar um seguro. Caso Portugal perca, é-se parcialmente compensado pelo desgosto.