segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Quem pagará a dívida?


Hoje nasceu Danica Maio Camacho, bebé Filipina simbolicamente baptizada de cidadão 7000 milhões. Dos mesmos números da ONU, ficámos a saber que a população Portuguesa atingirá o seu o valor máximo brevemente (2013 num cenário intermédio, 2023 num cenário optimista, 2011 num cenário pessimista). Estes números contrastam com as previsões, bem mais optimistas, da última projecção do INE, que datam de 2009, segundo a qual a população portuguesa continuaria a crescer até 2034 (cenário central). A diferença entre as duas projecções deve-se essencialmente às hipóteses da subida gradual das taxas de fecundidade (dos 1.3 filhos por mulher actuais para 1.6 em 2060) e da manutenção de um saldo migratório positivo, ambas assumida no estudo do INE.
Já pensou em reforçar o seu PPR?

O fim da ETA?


A ETA proclamou recentemente um cessar de fogo. Em princípio, é uma boa notícia, depois de 50 anos de atentados, 800 vítimas e 100 sequestros.
Durante a ditadura, a luta da ETA recolheu muitas simpatias, a tal ponto que, ainda hoje, o brutal assassinato do putativo sucessor de Franco, o almirante Carrero Blanco, em 1973, é visto por muitos como um dos grandes serviços que aquela “organização” prestou à pátria.
Com a chegada da democracia, a ETA deixou de fazer qualquer sentido. Em 1982, houve uma autodissolução de um sector, os chamados "polis-milis", que optaram pela via política, enquanto o resto do grupo preferiu prosseguir com a luta armada (leia-se: terrorismo). Parece que estão profundamente debilitados, já que, por um lado, a esquerda “abertzale” (nacionalista) os pressionou bastante para porem fim à violência e, por outro, a cúpula, que agora está encarcerada, decidiu cessar os atentados (de facto, há dois anos que não havia nenhum).
Todavia, ainda não depuseram as armas. Esperemos que não aconteça o mesmo que em 1982: muitos fizeram da luta a sua forma de vida e não será fácil integrá-los socialmente. Como dizia um dos pais das vítimas: "espero não ter como vizinho o assassino do meu filho".
Em 1982, ninguém lhes exigiu que entregassem as armas nem que reconhecessem as vítimas. Foram simplemente amnistiados.
Que acontecerá agora com os 700 presos etarras e com os que estavam a ser perseguidos pelas autoridades? Que atitude terão os familiares das vítimas?
Não será tudo isto mais uma artimanha da ETA para ganhar tempo e reorganizar-se, como já fez em várias ocasiões no passado?
Esperemos que os políticos espanhóis estejam à altura das circunstâncias. Uma coisa é certa: ainda que a violência termine, o conflito político com os independentistas continuará.

domingo, 30 de outubro de 2011

Boardwalk Empire - When alcohol was outlawed, outlaws became kings


Hollywood produz carradas de lixo cinematográfico,”pensado” para adolescentes acéfalos. Vai-nos valendo as séries televisivas americanas, que vivem a sua época de ouro. A lista das grandes séries americanas é longa e, infelizmente, não há tempo para as ver todas. Boardwalk Empire é apenas mais um exemplo dessa excelência televisiva. Conta com a chancela de Martin Scorsese, que ganhou recentemente um Emmy pela realização do episódio piloto.
O centro da acção é Atlantic City, uma cidade do Estado de New Jersey que teve nos anos 1920 um grande desenvolvimento e hoje é uma espécie de segunda Las Vegas devido aos seus casinos. E por lá desfilam os grandes gangsters da América do século XX, em especial Al Capone e Charlie “Lucky” Luciano.
Um Steve Buscemi em grande forma é “Nucky” Enoch Thompson, um político mafioso que percebeu logo a oportunidade de ouro para ganhar fortunas graças a uma lei feita, segundo as palavras do personagem, por ”ignorant bastards”. Refere-se ao National Prohibition Act, conhecido informalmente por Volstead Act (lei seca) e que entrou em vigor a 15 de Fevereiro de 1920, data em que arranca a trama da série.
Os resultados desastrosos da lei seca, que terminaria, salvo erro, em 1933 (pouco tempo depois da prisão de Al Capone), continuam vivos na memória colectiva. Talvez por isso os “ignorant bastards” ainda não se atreveram a ir mais longe nas leis do tabaco.
Como lamentava um dos mafiosos da série, era realmente uma pena que ninguém se tivesse lembrado de fazer uma lei igual para o tabaco.

sábado, 29 de outubro de 2011

Como foi possível?

Pedro Lains, no seu blogue, mostra umas sondagens que deixam claro que a maioria da população discorda do Orçamento de Estado. De seguida, desafia o governo a ouvir as sondagens, mudar de conselheiros e, presume-se, a mudar de propostas. Finalmente, pergunta: Como chegámos aqui? 
Respondendo a esta última pergunta, eu diria que um dos motivos por que chegámos a este ponto foi por ter sucessivos governos que governam para as sondagens.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Atrapalhando o tráfego

Uma vez a falar com um amigo sobre gostos musicais, amigo esse que é co-autor neste vosso blogue, terei dito: Meu caro, posso gostar de muita coisa, e gosto, posso ter muitos músicos e músicas preferidas, e tenho, mas há três que estão num patamar diferente de todos os outros: Zeca Afonso, Bob Dylan e António Jobim. Todos os outros estão um patamar abaixo, pelo menos um patamar.

Na verdade, à medida que o tempo passa. Entre os outros de que gostava muito estavam o Chico Buarque, o Caetano Veloso, o Nick Cave, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, entre muitos outros. No entanto, quanto mais o ouço, mais Chico Buarque se destaca e se eleva ao patamar definido pelo trio inicial.

Há pouco cruzei-me, novamente, com a Construção. É uma música tão forte, o puzzle de palavras que são montadas numa angústia crescente é tão louco que é quase impossível. Praticamente absurdo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Os mercados querem acreditar

A reação dos mercados bolsistas ao resultado da cimeira europeia é um sinal de que os mercados querem acreditar que a Europa vai realmente resolver o problema da dívida soberana. Não sei se esta reação se deve a acreditarem genuinamente no futuro do euro, se é porque ainda não perceberam que as verdadeiras decisões estão adiadas, ou se é apenas por estarem exaustos com o arrastar da crise e desejarem, mais do que acreditarem, que o pesadelo acabe. De qualquer modo, resta saber se as próximas emissões de títulos de dívida pública, nomeadamente francesa e italiana, confirmam estes sinais. O problema, segundo me parece, é que não bastará que o juro baixe, será necessário que baixe significativamente. Caso contrário, as dúvidas quanto à concretização das decisões europeias poderão voltar a tomar conta dos mercados. É preciso não esquecer que os verdadeiros resultados destas decisões, ou seja, as suas consequências para o défice e a dívida públicas, só serão conhecidos dentro de muitos meses ou anos, quando as execuções orçamentais dos próximos trimestres/semestres/anos forem conhecidas. Espero que o FEEF aguente até lá.

Solução? Adiar

Parece-me um acordo que não consegue salvar, apenas adiar. A dívida pública grega cai para 120% do PIB. Suficientemente alta para não conseguir resistir a ataques, especialmente depois da confiança ser abalada com este acordo de default.
Por outro lado, podem e devem recapitalizar os bancos. Mas não há recapitalização que sobreviva a um verdadeiro pânico seguido de uma boa corrida aos bancos. Vamos ver, às vezes adiar problema acaba por ser uma forma de os resolver.
Mas digam-me uma coisa, é impressão minha ou, cada vez mais, a União Europeia, como a conhecemos, depende da performance de Portugal?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Europe: put your money where your mouth is

In August, I and Fernando Alexandre wrote a post on "the end of Europe as we know it". There we argued that resolution of the crisis requires further, and decisive, transfers of fiscal sovereignty to Europe, though short of a full-fledged "European government", which we believe to be unrealistic at present. We also wrote that France and Germany appeared to be moving towards a solution of this sort.

As far as I can understand from recent news and previews of tomorrow's European summit, it appears we were wrong: France and Germany are still trying to make us believe that minor changes to the European treaties (focused on after-the-fact punishment), plus a drastic haircut and some sort of a European "fund" or "mechanism", with one, two or three billion Euro and in charge of negotiating and overseeing austerity measures, will be enough to end the crisis. The presumption, I believe, is that financial markets will from now on charge interest rates on European governments' bonds that, though sustainable, will (together with the memory of recent events in Greece) force them to maintain sound public finances, thereby avoiding the need for a significant revision of European treaties to allow for before-the-fact intervention.

I am inclined not to believe that these proposals (amendment+haircut+fund) will convince the financial markets. The shock waves from a drastic haircut will affect many other countries and assets. Soon the amount given to the "fund" will (again) appear too low to protect other endangered countries. I therefore suggest the following to European leaders: If you really believe that the proposed amendments to the treaties and the haircut will be enough to make European countries solvent, then tell the "fund"/European Central Bank to freely buy European governments' bonds, so as to fill any gap left by "irrational" financial market behaviour.

Note that "funds" or "mechanisms" are just masking the essential: it is the ECB who is holding the real bazooka, i.e., the printing press. Making the ECB lend a slingshot to a "fund" and announcing that a few more slingshots may be lent will not keep away the wild beasts. The fund/mechanism is only a mediator between troubled countries and ECB money: its duty is to make sure that countries deserve their funding. But, given the size of European public debts, without full access to ECB money it will always appear to be too small.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O pai do monstro (VPValente dixit) e não só

Na sua coluna de Sábado no Público, Vasco Pulido Valente escreveu que o Sr. Presidente da República é "o Pai do monstro", o que o torna também trisavô da actual crise (Guterres, Durão Barroso/Santana Lopes, Sócrates). Também podemos recordar que o Sr. Presidente da República já tinha sido um dos pais da crise que trouxe o FMI pela segunda vez a Portugal, para o programa de ajustamento em 1983-1985. Mas voltemos ao monstro: teria o Sr. Presidente da República obtido votações jardinescas sem usar métodos jardinescos?

sábado, 22 de outubro de 2011

Entrevista que dei...

ao jornal virtual Etc e Tal, depois de um debate na Casa dos Açores do Norte, no Sábado passado.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Letter

A propósito do Abstract postado pelo Luís, lembrei-me deste parágrafo da carta do editor, David H. Autor, publicada no Journal of Economic Perspectives (JEP), Vol. 25, No. 3, Summer 2011, dirigida a Bruno S. Frey:

There is very substantial overlap between these articles and your JEP publication. Indeed, to my eye, they are substantively identical. Based on discussions with the editors of these journals, we have confirmed that the JEBO article was in press and the R&S article under review while your article was under revision for JEP. At the time we accepted your paper for JEP, we could not readily have learned of these two overlapping articles since they were at the time unpublished. Further obscuring the links among these articles is the fact that none of your four articles cites any of the other three. Had you chosen to inform us of the JEBO and R&S articles prior to the publication of your JEP article, we would of course have no grounds for complaint. In that case, however, we would not have published your article.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Cortes & Cegos

Os cortes brutais previstos no OE de 2012 (-16,8% em 2012 e -19,2% reais em 2013, considerando uma inflação de 3% em ambos os anos), poderão ser necessários, mas são estúpidos. Ao serem iguais para todos não diferenciam, quer o mérito individual, quer o desempenho dos organismos e empresas públicas com boas práticas de gestão e com resultados de excelência nos serviços que prestam (sim, porque também os há). Melhor seria que a administração central fixasse um objectivo de redução do deficit para cada serviço, dando liberdade e incentivos aos seus dirigentes para os cumprirem. Os cortes salariais seriam assim um último recurso, para os organismos que não cortassem as suas despesas, ou que não gerassem receitas suficientes. Por exemplo, uma universidade com potencial de gerar proveitos próprios poderia empenhar-se mais na busca de novas fontes de receita, enquanto outra instituição poderia optar por uma redução de custos onde houvesse desperdícios. Uma medida como esta teria ainda a vantagem de aumentar a concorrência entre organismos públicos pelos melhores gestores, com ganhos de eficiência evidentes. Percebe-se a urgência, mas não se percebe a falta de imaginação.

Jorge Palma | Portugal, Portugal.



Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta
Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Abstract

This study is a replication of “Are Muslim Immigrants Different in terms of Cultural Integration?” by Alberto Bisin, Eleonora Patacchini, Thierry Verdier and Yves Zenou, published in the Journal of the European Economic Association, 6, 445–456, 2008. Bisin et al. (2008) report that they have 5,963 observations in their study. Using their empirical setup, we can only identify 1,901 relevant observations in the original data. After removing missing values we are left with 818 observations. We cannot replicate any of their results and our estimations yield no support for their claims. -- Abstract de um artigo publicado no último número do Journal of the European Economic Association.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Linux Ubuntu

O facto de eu usar o Linux em vez do Windows e, portanto, nao usar o Office da Microsoft, causou-nos (muito mais ao Luís e ao Miguel, a quem só posso pedir desculpa, do que a mim, que tinha um comboio para apanhar) grandes problemas este fim de semana. Quero, apesar disso, reafirmar o que disse então: nada me move contra o Bill Gates (que merece admiração) ou o software comercial em geral, mas para já (e admito mudar) continuo a gostar mais do Linux Ubuntu. Ao exemplo do scanner que posso voltar a usar (plug and play, sem necessidade de procurar drivers, que depois não funcionam) vou acrescentar outro: sempre que eu usava o Windows Vista tinha de passar 5 minutos à espera que desaparecesse a mensagem "a eliminar 0 bytes em 0 segundos". Parece-me que um sistema que demora 5 minutos "a eliminar 0 bytes em 0 segundos" tem falhas graves. Dir-me-ão que o 7 é muito melhor. Talvez, mas estive hoje de manhã a trabalhar num computador com esse sistema e senti muitas saudades do Ubuntu.

sábado, 8 de outubro de 2011

Prémio Nobel???? (2)

... e como o mundo continua a ter muitas guerras e violência não deveria haver prémio Nobel da Paz; e como as pessoas continuam a morrer das mesmas doenças há milhares de anos não deveria haver Prémio Nobel da Medicina; ...

Prémio Nobel??

Dado o contexto de crise em que vive a Ciência Económica, este ano não deveria haver prémio Nobel da Economia.

Prémio Nobel da Economia

Confesso que mal conhecia muito dos Nobel da economia dos últimos anos. Sendo macroeconomista, e dado o contexto de crise da economia mundial, aposto no Kenneth Rogoff e no Robert Shiller para o prémio deste ano. O Olivier Blanchard, noutro contexto, seria também um forte candidato.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Prémio Nobel

Pelo que percebi, um dos três vencedores do prémio Nobel da Medicina deste ano morreu. O homem lutava contra um cancro há cerca de quatro anos. E, pelos vistos, na sua luta contra o cancro usou, com o sucesso conhecido, parte das teorias que desenvolveu, e pelas quais recebeu o prémio.

Em Economia também já aconteceu algo semelhante. O Robert Merton e o Myron Scholes receberam o prémio Nobel pelas suas teorias financeiras, mais concretamente sobre os mercados de derivados. Mais tarde, a empresa deles, que diariamente trabalhava com as fórmulas por eles derivadas e que tinham sido a razão do Nobel, iria à falência.

A principal diferença entre os dois casos é que, se a corretora de Merton e Scholes tivesse ido à falência antes da atribuição do Nobel, nunca este lhes teria sido atribuído.